Querida Carlinha, "a minha vida inteira espera algo de mim"(8)

hoje tentei segurar mais uma vez o dia. Você já tentou? Não quero parecer reclamona ou pertubada, ainda que talvez eu seja, mas fechei as portas aqui de casa e talvez as minhas também, respondi aquele seu sms, apaguei as luzes, peguei um chá e sentei aqui. (Tá, eu sei que você jamais conseguirá me imaginar tão articulada no meu locomover, e de fato ainda me atrapalhei com algumas coisas por aqui)Vim pra cá procurando algum lugar pra estar, onde eu ficasse assim bem ajeitadinha, acomodada, sem essa sensação de que eu estou usando uma roupa apertada ou desconfortável, onde talvez ainda desse tempo de fazer alguma coisa que eu não fiz a vida toda, fiquei adiando o fim do dia e me negando o amanhã. Às vezes tenho essas necessidades inadiáveis das mesmas coisas. Por causa disso fiquei  pensando em trocar o meu número de telefone e cortar relações com quase todo mundo que eu conheço, como se desse pra fingir que eu troquei de planeta. Me diz foi por causa de alguma coisa parecida que você foi embora? Penso sempre que o mundo inteiro se parece com alguma coisa que eu perdi, que eu quebrei ou que nunca vou encontrar, pior ainda, com uma daquelas possibilidades que eu tinha pra ser e não sou, com essas necessidades imediatas de que te falo.